Carta Aberta à Comunidade do Hip-Hop
Título inusitado pra post, mas o assunto é sério. Ontem, a São Paulo Companhia de Dança fez uma publicação em seu Instagram sobre um espetáculo gratuito para estudantes e terceira idade de sua versão de O Quebra-Nozes, e pela primeira vez manifestei minha opinião publicamente sobre essa montagem. Feita por Márcia Haydée, ela incluiu no segundo uma coreografia de hip-hop, que começa como o tema de Mamãe Ginger e os Polichinelos para então mudar de rumo completamente. Fiz um comentário, questionando o porquê da presença dessa coreografia, ao que alguns responderam: mudar, renovar, inovar faz bem. Fui incisiva na minha opinião sobre não gostar, expus os motivos, mas acho que não fui clara o suficiente. Conclusão: me taxaram de preconceituosa com o movimento hip-hop, dizendo que eu estava "chorando porque uma dança negra entrou no universo do meu ballet." Definitivamente, eu não me fiz entender...
A minha crítica não é em relação ao hip-hop como dança ou movimento artístico. A minha crítica é em relação à música, ao fato de que a obra clássica é tocada por completo e de repente, aparece outra música que destoa do conjunto. Essa música poderia ser de qualquer ritmo: axé, tecnobrega, MPB, sapateado, até mesmo Bohemian Rhapsody do Queen que eu amo! Ainda assim, iria questionar a falta de unidade musical. Por quê um Queen no meio de um Quebra-Nozes? Será que agora é possível entender o meu ponto de vista ou vão continuar me taxando de preconceituosa?
Como disse mais de uma vez, não sou contra a inovação, mas acho que deve haver bom senso. Há excelentes exemplos na dança de reinvenções, como O Quebra-Nozes de David Bintley, que transformou a partitura da suíte Quebra-Nozes em forma de jazz, e inovou coreograficamente, colocando sapateado e misturando Dança Espanhola e Valsa das Flores numa única coreografia, por exemplo. Eu achei sensacional! O Lago dos Cisnes de Alexander Ekman, que postei recentemente, também revisita a obra e faz algo totalmente inovador, a nível coreográfico e musical. O mesmo se pode dizer da versão de Akram Khan para Giselle, na qual a partitura de Adam também foi revisitada. No próprio Quebra-Nozes da SPCD, a coreógrafa faz um paralelo entre a capoeira e a dança russa, o que ficou muito legal pois os movimentos de ambas modalidades são muito próximos.
E para ser justa, no campo do hip-hop há uma adaptação muito legal de O Quebra-Nozes, que já esteve no catálogo do Disney+. Ali sim, dá pra perceber que a música foi totalmente trabalhada para o ritmo que se propõe. Deem uma olhada no trailer e constatem vocês mesmos.
Ainda sobre reinventar as obras clássicas, conheci uma escola, o Ballet Evelyn, que sempre faz adaptações das peças para a cultura brasileira. O Quebra-Nozes na versão deles virou O Quebra-Cocos, que "valoriza a nossa regionalidade e o Natal brasileiro. A história conta a aventura de Quebra-Cocos, um boneco cangaceiro que, ao defender Clara, atravessa o Reino das Cores e chega no Palácio das Frutas Tropicais." Olha que original, interessante e tipicamente brasileiro!
Então pra deixar bem claro, a minha crítica foi em relação à música, ok? Peço sinceras desculpas a quem se sentiu desrespeitado. Se eu não sou a dona da verdade e o mundo não gira em torno do meu umbigo, tampouco quem me acusou de ser racista o é. E mais, o meu gostar pode e deve ser dito sim! Afinal vivemos em uma democracia... Ou não?
Eu lancei uma enquete nos stories do Instagram perguntando o que as pessoas acharam do hip-hop no Quebra-Nozes da SPCD. Em breve colocarei o resultado final, até o momento 55% das pessoas não curtiram.
Se você curtiu, tá tudo certo! Há espaço para todos na dança!
E voltemos à nossa programação normal.
Eu particularmente não gosto de , inovações. De ser a única , mas não gosto. Não gosto nem de bailarina dançando só de collant. Ontem vi aquela versão do Lago que a bailarina dança só com collant branco, já não gostei, imagina um hip Hop dentro do clássico .
ResponderExcluirSei que a nossa opinião não vai mudar em nada a montagem que foi feita, mas é bem por aí... Agradeço muito por todos os comentários que tem deixado aqui no blog :)
ExcluirFirst, it is crucial to perceive all art mediums' relevance and innate value (not only those regarding various dance forms). After all, art is art, and all art forms are ESSENTIAL. Yet, when it comes to ballet specifically, it stands as one of the top two physical disciplines ever created. (The other is the martial arts, which, like ballet, requires intense physical training and discipline but primarily focuses on combat techniques rather than storytelling through movement.) Regardless, what distinguishes ballet above all other art forms and physical disciplines is its potential for someone to portray/convey the ethereal. In this way, as the practitioner achieves the desired goal of exhibiting a transcendent beauty, the physical world's limitations are momentarily lost so that the viewer may glimpse what exists beyond the mortal plain and experience awe at a soul level. Because of this potential, ballet is premiere, and it will remain so as long as the potential is pursued. Regarding Hip-Hop, this art form is relatively new, and no one in the art form has yet elevated their persons to exhibit this potential. (Someday, maybe!) Presently, however, the art form primarily and generally allows the participants to show off incredible athletic abilities and skills. Yet, when it comes to telling/expressing /communicating a story, besides 'look at how skilled I am being able to pull off these great physical feats,' there is little else of any substantive tale being told. Ultimately, given that every art form and medium contributes to humanity, just as the art form's participants grow and mature over time, their contributions will continue to increase for the greater good and benefit of everyone worldwide. So please, always encourage the best from every artist and show your support for them!
ExcluirThank you very much for this comment! The blog's flagship is classical ballet, as it is the focus of my studies and research. But all forms of dance are welcome and respectfully received! I learned from the São Paulo Dance Company to look at other forms of dance in a different way. In fact, I have already had some experiences: I did belly dancing when I was a child, I took modern dance classes with Beth Bastos and I participated in a study group on Afro-Brazilian dances, which focused on the ballerina Mercedes Baptista, a great name in the field. These are not excuses, they are real experiences. Contrary to what people accuse me of saying, I do not think ballet is everything, but rather it is part of the whole! And the whole deserves respect :)
ExcluirBravo! Well said! Please know that I understand and appreciate your not liking something. This point, too, is valid. In fact, it is entirely reasonable based on what you shared, what you didn't like, and why you didn't like it. In most cases, a constructive critique of anyone's work can help them, especially when love, care, and sufficient insight are shared. Ultimately, having the courage to relate and discuss what you most believe in and value is essential for everyone to do. Your role in this process is significant and empowering. Thank you for having the courage to be honest and truthful in the first place. The process you have participated in exists so that it leads to growth for everyone involved! Again, bravo!
ExcluirConheço sua índole e sei que você jamais seria racista. Os leigos precisam entender que tudo tem seu momento e lugar.
ResponderExcluirNo teatro municipal aqui do RJ sempre tem um festival de hip Hop e de danças de matrizes africanas. Somos um país grande o suficiente pra caber todas as danças.
Agora numa montagem de repertório totalmente clássica seguindo a partitura original de Tchaikovsky é desrespeito adicionar uma música moderna. Vê se alguém do clássico quer colocar ou impor nossos passos e músicas na dança deles??
Querem mudar tudo, mas os próprios não se abrem pra conhecer a fundo a dança clássica que veio antes de tudo
Obrigada pelo apoio Rique!
ExcluirEu já tive vivência em outras modalidades, seja fazendo aula ou participando de grupos de estudo. Toda forma de dançar é válida!
E o que você falou faz total sentido! Eu pelo menos, nunca vi algo do tipo...