"Você será espelho para muitas pessoas!"

Quando se começa no ballet na idade adulta, a gente já inicia com uma série de condições. Dificilmente dançaremos profissionalmente em uma companhia, talvez não dancemos as peças que gostamos e todos os papéis que gostaríamos. Para uma amante dos repertórios, como eu, isso é quase uma facada no coração. Como diz a Carol do @meiaponta, ser bailarina adulta é ser bailarina por amor! É começar independente dos olhares enviesados de muitos que acham que ali não é o nosso lugar. Mas é...

Os motivos para se começar na idade adulta são os mais variados. Além do amor a dança, eu tenho um objetivo: me formar como bailarina. Não, eu não vou me tornar a primeira bailarina do Theatro Municipal, mas uma amiga muito querida certa vez me disse: "Você pode não ser bailarina de companhia e nem dançar todos os papéis que gostaria, mas você será espelho para muitas pessoas!". E posso dizer: ela não estava errada!

Já fazia muito tempo que eu não encontrava uma amiga muito querida dos tempos de escola. Nós fizemos o primeiro ano do ensino médio juntas e sempre saímos pra ir ao shopping aos finais de semana, mas por conta de um mal entendido, a mãe dela proibiu a nossa amizade. Até nos falávamos pela internet esporadicamente, mas passamos anos sem nos ver.

Eis que em 2013, quando estava no terceiro ano do ballet, eu a convidei para assistir uma apresentação minha, uma mostra interna que o primeiro estúdio onde fazia aula sempre realizava no meio do ano. Foi muito gostoso reencontrá-la e também poder conhecer as filhas dela, que amaram o espetáculo. Nós estreitamos contato e a partir daí as convidei em outras duas ocasiões: a mostra interna do ano seguinte e a entrega dos diplomas da Royal em 2016, que foi seguida de uma apresentação de gala.

Logo após, ainda consegui encontrar minha amiga mais uma vez, no aniversário de uma das meninas. Depois disso, acabou não dando certo de vê-las novamente por conta da correria do dia-a-dia. Vontade não faltou, mas as agendas não batiam. Ainda assim, acompanhei o movimento da minha amiga pelas redes sociais, e notei por algumas vezes ela contar sobre o sonho de uma das filhas, que queria ser bailarina.

No final de 2018, tive uma grata surpresa: a menina dela havia passado na seleção da Escola Municipal de Bailados Laura Thomé, em São Caetano, cidade onde mora. Eu fiquei muito feliz, ainda mais tendo lido o depoimento sobre como a filha achava que não teria chance perto de outras candidatas que já faziam ballet ou ginástica olímpica anteriormente. Ao parabenizar, minha amiga me respondeu: "Você foi a inspiração dela, a primeira pessoa a convidá-la para um espetáculo. Ela amava te ver dançar e viajava na música. Passou a amar a dança também. Grata por tudo! Abraços gigantes!".

Eu fiquei muito emocionada no dia, e ainda fico cada vez que me lembro. Hoje eu percebo que não preciso ser bailarina de companhia para inspirar alguém a começar a dançar. Eu fui um espelho pra ela e sei que ainda vou ser para muitas pessoas!

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